Os tabus e os desafios da saúde mental feminina

 Num mundo cada vez mais globalizado e tecnológico, a saúde mental da mulher é um tema de extrema importância, pois impacta diretamente na qualidade de vida, na produtividade e no bem-estar feminino.



Mesmo com várias redes de acesso sobre temas relevantes do universo feminino, como ansiedade, depressão ou a influência das alterações hormonais na rotina da mulher, muitas barreiras demonstram a dificuldade de um diálogo aberto sobre os desafios psicológicos enfrentados pelo público feminino. E neste artigo, eu quero abordar os principais desafios e tabus relacionados à saúde mental das mulheres, destacando soluções para lidar com essas questões. 


O Impacto das expectativas sociais na saúde mental feminina

Apesar de temas sobre saúde mental serem comuns a todas as pessoas, é perceptível que em alguns grupos sociais, a demanda de qualidade e bem-estar emocional é muito maior do que em outros grupos. Nós mulheres desde cedo somos ensinadas a assumir diferentes papéis, como profissionais, mães, cuidadoras e esposas, e com uma pressão e cobrança social mais intensa. É muito comum que o peso do julgamento seja diferente entre homens e mulheres, o que leva a um alto nível de expectativa sobre o desempenho feminino, aumentando o nível de pressão psicológica que sofremos. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), as mulheres apresentam maiores níveis de ansiedade e depressão em comparação aos homens, em parte devido à sobrecarga mental e emocional.

No Brasil, 45% das mulheres sofrem com algum transtorno mental, como depressão, ansiedade. Ou seja, 6 em cada 10 mulheres estão em sofrimento psíquico, segundo uma pesquisa nacional realizada em Agosto de 2023 (fonte). Segundo essa pesquisa,

O relatório não surpreende porque são dados que já sabíamos que aconteciam, ou seja, as mulheres estão cansadas e sobrecarregadas. Quase metade da população feminina tem algum transtorno mental e com muito pouco acesso a cuidados específicos. A maioria diz que, como ferramentas para conseguir lidar com essa questão, tem a atividade física ou a religião. Tem uma insatisfação com diversas áreas da vida. A questão financeira é a que mais preocupa e a dupla ou tripla jornada é o segundo maior fator de pressão sobre a psique feminina”, disse Maíra Liguori, diretora da ONG Think Olga.


Expectativas e a Sobrecarga Mental

A sobrecarga mental feminina é um fenômeno amplamente discutido na psicologia. E o livre acesso às redes sociais potencializa essa sobrecarga mental, principalmente pela comparação a que nos expomos constantemente, levando ao desejo inconsistente por padrões sociais e de beleza irreais, ou dificilmente alcançáveis. As redes sociais acabam potencializando essa busca pela perfeição, contribuindo para o desenvolvimento de quadros depressivos e ansiosos.


 

Carga Mental e Saúde Mental

O conceito de "carga mental" refere-se ao peso cognitivo e emocional da administração das tarefas diárias. Um estudo da Universidade de Cambridge (2021) mostrou que a carga mental feminina está diretamente ligada ao aumento dos níveis de estresse e transtornos de ansiedade.

No cenário brasileiro, 86% das mulheres consideram ter muita carga de responsabilidades. O cuidado com a casa, com os filhos, com o relacionamento, com o trabalho, com a família e com o próprio cuidado tem sido constante, na realidade de vida da maior parte das mulheres brasileiras. 

Como Reduzir a Carga Mental

  • Divisão de tarefas: Negociar responsabilidades domésticas pode reduzir o estresse.

  • Autocuidado: Priorizar momentos de lazer e descanso.

  • Psicoterapia: Buscar apoio profissional para gestão emocional.


O Impacto do ciclo menstrual na Saúde Mental

As flutuações hormonais também impactam diretamente o humor e a saúde mental feminina. Segundo estudos recentes, mulheres em idade reprodutiva são mais propensas a desenvolverem transtornos mentais por conta das oscilações hormonais mensais, agravada pelos outros fatores sociais já discutidos aqui. 

No campo mental, a área do nosso cérebro que é responsável pelo gerenciamento das nossas emoções é o mesmo que controla os hormônios do ciclo menstrual, por isso que as mudanças hormonais ao longo do ciclo menstrual podem influenciar o humor, contribuindo para sintomas como irritabilidade, ansiedade e até depressão. Isso explica, por exemplo, condições como a tensão pré-menstrual (TPM) e o transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM).

Dicas para Lidar com as Oscilações Hormonais

  • Alimentação balanceada: Reduzir o consumo de cafeína e alimentos ultraprocessados.

  • Exercícios físicos: Atividades como ioga e caminhada ajudam a regular o humor.

  • Acompanhamento médico: Identificar condições hormonais que possam agravar os sintomas.


Tabus sobre Saúde Mental Feminina

Embora o tema da saúde mental tenha ganhado espaço, ainda existem vários tabus que impedem o acesso a tratamentos adequados.

Depressão Pós-Parto

A depressão pós-parto afeta aproximadamente 25% das mulheres brasileiras, segundo estudos organizados pela Universidade de São Paulo (USP) (fonte). No entanto, o estigma em torno do tema faz com que muitas mães evitem buscar ajuda, por medo de julgamento ou por sentirem culpa em relação ao seu papel materno. A falta de apoio familiar e profissional agrava a situação, tornando essencial a disseminação de informações sobre o tema e a importância da assistência psicológica nesse período delicado.

Transtornos de Ansiedade e Estresse no Ambiente de Trabalho

O estigma em relação à vulnerabilidade emocional pode impedir que mulheres expressem dificuldades no ambiente profissional. Estudos mostram que mulheres que relatam problemas emocionais no trabalho são vistas como menos competentes. Esse preconceito leva muitas profissionais a esconderem sintomas de ansiedade e estresse, o que pode resultar em burnout. Promover um ambiente de trabalho mais inclusivo e com suporte para a saúde mental é essencial para reverter essa realidade.

Estratégias para Melhorar a Saúde Mental Feminina

Para superar os desafios mencionados, algumas estratégias podem ser adotadas:

  • Apoio psicológico: Buscar terapia individual ou em grupo, garantindo suporte emocional.

  • Autoconhecimento: Identificar gatilhos emocionais e trabalhar a resiliência.

  • Práticas de mindfulness: Exercícios diários de meditação podem reduzir os níveis de estresse.

  • Atividades físicas regulares: Movimentar-se melhora a produção de serotonina e dopamina, hormônios do bem-estar.

  • Rede de apoio: Criar e fortalecer laços com familiares, amigos e grupos de suporte pode reduzir o impacto do estresse e da ansiedade.

  • Políticas de bem-estar no trabalho: Empresas devem implementar programas de apoio à saúde mental, promovendo um ambiente mais acolhedor.


A saúde mental feminina deve ser uma prioridade, e é essencial quebrar tabus que ainda impedem o acesso a informação e tratamento. Ao reconhecer os desafios enfrentados pelas mulheres e propor soluções acessíveis, podemos caminhar para um futuro onde o bem-estar emocional seja valorizado e promovido em todas as esferas da vida.



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