Como lidar com traumas do passado e feridas que ainda doem
Algumas lembranças parecem insistir em permanecer. Mesmo quando a vida segue e você constrói novas histórias, há dores que voltam como se tudo tivesse acontecido ontem. São memórias que não se transformaram apenas em passado, mas que se tornaram feridas abertas dentro de você.
Essas feridas emocionais e traumas podem não estar mais presentes no seu dia a dia de forma consciente, mas continuam impactando silenciosamente seus pensamentos, emoções, decisões e relacionamentos. Muitas vezes, eles moldam como você enxerga o mundo, como se protege dele e como interpreta o que as pessoas dizem ou fazem. É como se houvesse uma camada invisÃvel entre você e a realidade, filtrando tudo de acordo com o que já doeu antes.
O que é trauma emocional?
Trauma emocional não é apenas o que aconteceu com você, mas também o efeito profundo que esse acontecimento teve no seu mundo interno. É a marca que um evento doloroso deixa na forma como você se sente em relação a si mesma, como se vê, como se relaciona com outras pessoas e como interpreta a vida.
Enquanto feridas emocionais podem surgir de experiências repetidas, como crÃticas constantes, humilhações, rejeições ou abandono – que pouco a pouco vão minando a autoestima e a sensação de valor próprio –, o trauma costuma envolver situações de maior ameaça à integridade fÃsica ou psicológica, como abuso sexual, violência doméstica, assaltos, acidentes ou desastres.
Porém, é importante lembrar que o que determina o impacto de qualquer experiência dolorosa não é apenas sua gravidade objetiva, mas como ela foi vivida e processada por você. Duas pessoas podem passar por situações semelhantes, mas cada uma terá reações emocionais diferentes, dependendo de sua história de vida, seus recursos internos, seus vÃnculos de apoio e seu momento emocional.
Quando um trauma não é elaborado, ele permanece no corpo e na mente como algo vivo, sempre pronto para reagir ao menor sinal de ameaça, mesmo que essa ameaça não exista mais. Por isso, lidar com essas dores não é “esquecer” o que aconteceu, mas aprender a dar novos significados, integrar essas memórias na sua história de vida e construir segurança interna para seguir em frente sem que o passado dite seu presente.
Por que o passado ainda pesa tanto?
Quando um evento doloroso acontece, seu cérebro entra em estado de alerta para tentar entender e armazenar essa memória. Em situações normais, mesmo experiências difÃceis são processadas aos poucos, transformando-se em lembranças que podem ser revisitadas sem reativar toda a dor vivida.
Mas no caso dos traumas e feridas emocionais profundas, esse processamento fica interrompido. O que aconteceu foi tão impactante ou tão doloroso que a mente, em um mecanismo de defesa, não consegue organizar aquela experiência de forma integrada à sua história. Em vez de serem registradas como algo que já passou e foi concluÃdo, essas memórias ficam armazenadas de maneira fragmentada, como se estivessem acontecendo agora, no presente.
Por isso, mesmo muito tempo depois, você pode sentir reações fÃsicas e emocionais fortes ao lembrar ou ao ser exposta a gatilhos semelhantes – um cheiro, um tom de voz, uma palavra, uma situação. Seu corpo reage como se estivesse revivendo a experiência, ativando as mesmas sensações de medo, dor, vergonha ou raiva que sentiu no momento original. É como se aquele capÃtulo da sua vida ainda estivesse aberto, esperando para ser compreendido, acolhido e finalizado de forma segura.
Alguns sinais de que o passado está pesando no presente:
- Medos ou ansiedades que parecem “exagerados” diante da situação atual
- Sensação constante de alerta ou insegurança
- Evitar lugares, pessoas ou conversas que lembrem o ocorrido
- Reações emocionais intensas sem entender bem o motivo
- Baixa autoestima ou vergonha ligada a essas experiências
Como começar a lidar com traumas e feridas emocionais
1. Reconheça o que dói
Muitas vezes, para seguir em frente, você pode tentar ignorar o que aconteceu. Mas reconhecer a dor é o primeiro passo para curá-la. Permita-se nomear o que sente, sem julgamentos.
2. Entenda seus gatilhos
Perceba situações que trazem lembranças dolorosas ou que fazem você reagir de forma intensa. Observar esses gatilhos ajuda a retomar o senso de segurança e autocontrole.
3. Pratique o ancoramento (grounding)
Quando pensamentos ou lembranças difÃceis surgirem, tente se ancorar no presente. Olhe ao redor, nomeie cinco coisas que vê, quatro que toca, três que ouve, duas que cheira, uma que saboreia. Esse exercÃcio simples ajuda a acalmar a ativação emocional.
4. Valide sua experiência
Em vez de se criticar por “não ter superado ainda”, reconheça que seu corpo e sua mente estão tentando proteger você. Essa autocompaixão reduz a vergonha e o autojulgamento, que alimentam o sofrimento.
5. Busque apoio profissional
Traumas e feridas emocionais profundas geralmente precisam de acompanhamento psicológico. Em terapia, você encontra um espaço seguro para revisitar memórias dolorosas de forma cuidadosa, ressignificando o que aconteceu e reconstruindo sua relação com o passado.
Com apoio adequado, você pode aprender a construir segurança interna, fortalecer sua autoestima e desenvolver recursos emocionais para lidar com o que doeu. Aos poucos, o que antes era fonte de sofrimento passa a ser algo que você carrega com mais leveza, sem que determine seus pensamentos, sentimentos ou escolhas.
✨ Lembre-se: você é muito mais do que aquilo que aconteceu com você. Existem partes suas que merecem ser vistas, cuidadas e fortalecidas – partes que continuam vivas e que podem florescer, independentemente do que ficou para trás.
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